São Paulo, 30 de Abril de 2009 - O programa Minha Casa, Minha Vida tem metas audaciosas e um prazo muito curto para ser cumprido, se for levado em conta que amanhã começa o quinto mês do ano e o projeto ainda não saiu do papel. O problema é que vários empecilhos devem atrasar ainda mais a entrega das moradias, que estavam previstas para daqui a dois anos.
O primeiro deles é o atraso do anúncio do próprio pacote habitacional. A previsão era de que o programa seria anunciado em janeiro, quando surgiram os primeiros burburinhos sobre a ajuda do governo ao setor da construção civil. Mas o pronunciamento acabou sendo feito apenas no fim de março e o pacote só entrou em vigor dia 13 de abril.
Agora, a greve de funcionários da Caixa Econômica Federal (CEF), responsáveis pelo acompanhamento de projetos do Minha Casa, Minha Vida, deve dificultar ainda mais o cumprimento da meta. De acordo com Maria Fernanda Ramos Coelho, presidente da Caixa, em entrevista à um programa de rádio, a entidade já recebeu 221 projetos habitacionais de empresas interessadas em construir casas e edifícios destinados à população que recebe até três salários mínimos mensais. Ela disse ainda que a Caixa está analisando cada um deles e que o processo dura de 30 a 45 dias. Com isso, a presidente da entidade espera que as primeiras moradias sejam entregues daqui a oito meses. Mas essa conta não leva em consideração a parada, por tempo indeterminado, dos funcionários.
Outro empecilho é que 600 prefeituras ainda estão se organizando para aderir ao programa do governo federal. Segundo Maria Fernanda, apenas 200 termos de adesão já foram assinados com estados e municípios, que têm mais de 50 mil habitantes. Cidades com menos moradores não podem participar do projeto. Segundo João Crestana, presidente do Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de São Paulo (Secovi-SP), o fator determinante deveria ser a demanda e não a concentração populacional.
"O pacote é o primeiro passo. A sociedade brasileira não pode viver mais com o déficit de oito milhões de moradias", afirma Crestana. Por isso mesmo, ele acredita que o programa não vai se restringir apenas ao governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva. "É uma tarefa de Estado e não de governo." Para Crestana, são necessários cerca de 15 anos para erradicar o problema habitacional no Brasil. "Se você fizer a conta: oito milhões de moradias vezes R$ 50 mil, que é o preço médio de cada uma delas, o volume total movimentado para a construção é de R$ 400 bilhões", afirma. Isso vai ter consequências também para a infraestrutura dos municípios, que deverá ser incrementada. "O mercado de baixa renda se consolidou com o pacote."
É por isso que diversas construtoras apostaram ainda mais no segmento econômico. A Bairro Novo, por exemplo, braço popular da Odebrecht, focou 70% do seu portfólio para a construção de moradias para pessoas com rendimento de até três salários mínimos mensais. Depois do anúncio do pacote habitacional, a empresa também se propôs produzir 50 mil unidades, contanto os projetos mais caros. "A gente já atuava no segmento acima de três salários mínimos. Mas agora estamos em um ritmo frenético de negociação com as prefeituras e com a Caixa", afirma Roberto Senna, diretor superintendente da Bairro Novo. "Daqui a 60 dias tudo já deve estar aprovado", acredita. O Valor Geral de Vendas esperado é de cerca de R$ 3,5 bilhões, levando-se em consideração o preço médio de R$ 70 mil para cada unidade habitacional.
Outra empresa que aposta no segmento econômico é a Brascan. O foco da companhia é a faixa de seis a dez salários mínimos. "Dos R$ 15,5 bilhões em terrenos, podemos dedicar R$ 620 milhões ao segmento de baixa renda. Isso significa cerca de quatro mil unidades", afirma Luiz Rogélio Tolosa, diretor executivo de relações institucionais e com investidores da Brascan. "No momento, a faixa até três salários não está nos nossos planos. Mas esse pacote vai durar por vários anos, e só o anúncio já incrementou a procura por imóveis", revela.
"O pacote foi muito bem-vindo. Vemos o comprometimento do governo, das empresas de construção e da Caixa, e o resultado aparece nas visitas aos estandes de venda", diz Antônio Guedes, diretor de novos negócios da Cyrela Realty. O executivo revela que a companhia já tinha os terrenos que vão ser destinados ao programa. "A previsão é de que a gente faça de 13 mil e 15 mil unidades dentro do programa do governo", conta. Hoje, a Living, braço do segmento econômico da companhia, responde por 30% da Cyrela e a expectativa é de que passe a ser de 40% a 50%, dependendo da aprovação dos projetos. A faixa atendida pela Living será preferencialmente de R$ 80 mil a R$ 130 mil. "A gente tinha expectativa de crescimento da Living antes mesmo do pacote, mas ele acelerou esse processo. E o pacote veio para ficar", conclui.
É nisso que Eduardo Gorayeb, diretor presidente da Rodobens Negócios Imobiliários, também acredita. "Nós participamos da execução do programa. Já tínhamos o foco do segmento econômico, mas estamos nos readequando para nos enquadrar ainda mais nele", afirma. O segmento responde por algo entre 70% e 80% do portfólio da companhia. A primeira etapa, ou seja, este ano, deve envolver a produção de quatro mil unidades habitacionais, que deve gerar algo em torno de R$ 300 milhões em VGV. No total, a expectativa é de que chegue a 12 mil imóveis. "Vamos tentar reduzir o processo de construção para seis meses. Hoje fazemos em 12", conta. "Se o programa der certo, quem vai tirá-lo? Ele vai conseguir combater o déficit", acredita.
Fonte: Gazeta Mercantil/Relatorio - Pág. 1 - Natália Flach
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